OS MALES DO EXCLUSIVISMO

Nos primeiros tempos apostólicos, as primitivas assembleias (igrejas) cristãs, reunidas em simplicidade ao nome do Senhor Jesus, foram um modelo para todos os tempos futuros; e as instruções dadas a elas são instruções para nós hoje. O cuidado e a orientação dessas assembleias locais eram responsabilidade dos anciãos ou superintendentes levantados entre eles pelo Espírito Santo (Atos 20.17, 28); esses anciãos sendo homens distinguidos por qualificações morais e espirituais (1 Timóteo 3 e Tito 1).

Normalmente havia uma pluralidade de presbíteros em cada assembleia local (Atos 14.23; Filipenses 1.1), e é evidente que cada assembleia era autônoma, respondendo somente ao Senhor (Apocalipse  1.13).

No começo do século XIX a história registra um aumento realmente impressionante destas igrejas locais, começando na Irlanda e estendendo-se quase que simultaneamente a vários países na Europa. Sem dúvida alguma foi uma obra do Espírito Santo. Em 1827, alguns cristãos na cidade de Dublin, na Irlanda, começaram a reunir-se para partir o pão e edificar-se mutuamente. Não sabiam que outros, na Irlanda do Norte, e na Guiana Inglesa, já estavam fazendo a mesma coisa. Rapidamente mais e mais igrejas locais e autônomas surgiram em muitos lugares.

Logo no começo daquela igreja em Dublin destacou-se um irmão que teria um impacto muito grande, não só na Irlanda, mas em todo o mundo. Era John Nelson Darby.

Até hoje quantos cristãos e quantas igrejas sentem os resultados benéficos dos trabalhos incansáveis daquele saudoso servo do Senhor. Quando, porém, ele adotou a ideia de que o corpo místico de Cristo é algo visível na Terra, ele foi levado a conclusões errôneas que trouxeram muito prejuízo ao povo de Deus, provocando uma divisão entre igrejas que até então gozavam de preciosa comunhão mútua. Afirmou que os santos que já partiram, estão com Cristo, e consequentemente nesta condição, não fazem parte do corpo de Cristo que (a seu ver) é algo visivel na Terra.

Desta forma, ele contemplava um corpo que o Novo Testamento não reconhece. A consequência inevitável deste ensino foi a formação duma seita — exatamente a ideia que ele procurava combater!

A Palavra de Deus fala-nos apenas de uma igreja invisível, o Corpo de Cristo, composta de todos quantos pertencem ao Senhor Jesus e de igrejas locais controladas diretamente pelo Senhor Jesus, o Qual está no meio de todas as igrejas que se reúnem em Nome dEle sem ligação denominacional.

Os seguidores dos princípios de Darby são conhecidos como «Irmãos Exclusivistas», enquanto os seguidores do princípio da autonomia administrativa de cada igreja são conhecidos como «Irmãos Abertos».

Mas a bem da verdade devemos reconhecer que estes queridos irmãos não adotam estes ou qualquer outro nome.

Desde então houve frequentes divisões entre os “Exclusivistas”, e sub-divisões, o que é consequência inevitável do ensino errado quanto ao corpo de Cristo.

As igrejas que não seguiram este ensino de J.N. Darby, se espalharam pelo mundo inteiro. As suas igrejas multiplicaram-se, e através dos trabalhos de evangelistas zelosos, grandes números foram salvos. Depósitos de literatura produziram folhetos evangélicos aos milhões e pregadores itinerantes do Evangelho foram por toda parte proclamando as boas novas duma salvação presente por meio da fé somente em Cristo. Centenas mais, deixando tudo por amor daquele que os salvou, foram para as regiões além do mar a fim de promover missões entre os pagãos. Na China, Índia, Malásia, África, entre o povo indígena (aborígenes) de Nova Zelândia e nas ilhas dos mares levantaram o estandarte da cruz sem serem sustentados por salários ou missões organizadas nos seus países de origem. Sua confiança estava no Deus vivo, que, através do Seu próprio povo, ministrou às suas necessidades, visto que foi ‘por causa do Nome que saíram, nada aceitando dos gentios’.

Como já dissemos, os cristãos, no início do século passado, se separaram das várias organizações eclesiásticas da cristandade, e foi porque as perceberam como sectárias em caráter e não autorizadas pelas Escrituras; e não era seu pensamento formar uma nova denominação ou corpo religioso de qualquer tipo.

Naquela época, o irmão John Nelson Darby escreveu: “Se o homem se dispuser a imitar a administração do corpo, será papismo ou dissidência imediatamente.”

Essas palavras foram certamente proféticas, pois não demorou muito até que o conceito de assembleias  autônomas, responsáveis ​​somente pelo Senhor, fosse abandonado pelo Sr. Darby, e seus seguidores, e várias assembleias  foram reunidas para formar um partido ou círculo com limites reconhecidos definidos e uma supervisão governamental unificada.

O controle era exercido por um grupo de 'irmãos da liderança' em Londres, e as decisões desse corpo governante eram obrigatórias para todas as assembleias pertencentes ao partido.

As assembleias locais que não aceitaram essas decisões foram cortadas da comunhão.

O erro fundamental do Exclusivismo foi o reconhecimento de uma pessoa jurídica composta por assembleias.

Mas, o único Corpo reconhecido pelas Escrituras é o Corpo de Cristo, e isso não contempla um governo ou administração humana. Mas a formação de um partido, ou “círculo de companheirismo”, exigia um governo central, e isso foi fornecido pelo grupo de Londres de irmãos líderes.

A ideia de tal grupo de líderes autonomeados, controlando e legislando para um grande número de assembleias locais ou “reuniões” é bastante estranha às Escrituras. É o mesmo princípio que produziu a hierarquia católica romana e a supremacia papal, e onde é admitido, mas não devemos nos surpreender ao ver um homem finalmente assumindo as rédeas do governo. Isso caracterizou o partido de Londres desde o início, e a liderança de homens como John Nelson Darby, Frederick Edward Raven e John Taylor parecem ser essenciais para o sistema.

Mas o princípio do governo autocrático é contrário às Escrituras e é condenado pelas palavras de nosso Senhor: “Não será assim entre vós” (Mateus 20.25, 26).

Os homens espirituais não se dispõem a legislar para seus companheiros de fé, mas nos homens carnais o desejo de poder está sempre presente.

Diótrefes, o homem que encontramos em 3 João, é o protótipo de tudo isso. Ele adorava ter a preeminência e estava preparado para agir impiedosamente com todos que pudessem interferir em suas ambições, inclusive contra o apóstolo João. Não contente com isso, expulsou da assembleia aqueles que não se submeteram à sua ditadura (3 João 9, 10).

Esta é a verdadeira imagem do exclusivismo como é praticado hoje nos que seguem os de Londres, sob a liderança de John Taylor Jr.

Amor pelo Salvador, submissão à Palavra de Deus, piedade de vida, tudo isso não vale nada quando visto pelos exclusivistas, se os decretos de um homem ou de um grupo de homens, que são eles, não forem aceitos ou submetidos, e todos os que ousam discordar são excluídos da comunhão destas assembleias locais.

Há muito tempo que se sabe que o grupo dos “exclusivistas” de Londres tem sido bastante inseguro no assunto do batismo nas águas.

O que geralmente não é percebido ou reconhecido é que essa falta de solidez se estende necessariamente à questão da conversão e regeneração.

O ensino da Escritura quanto ao batismo é simples e claro o suficiente se não tivermos teorias para defender.

John Nelson Darby foi sem dúvida influenciado em relação a este assunto por seu treinamento teológico anterior. Como clérigo, ele praticou a aspersão infantil e conhecia todos os argumentos para defendê-la, mas nenhum deles é convincente para o simples crente que conhece a autoridade das Escrituras.

Tanto a doutrina quanto os exemplos do Novo Testamento deixam bastante claro que o batismo (por imersão) é privilégio e obrigação apenas daqueles que experimentaram a salvação, a verdadeira conversão e desejam declarar sua morte e sepultamento com Cristo pelo batismo nas águas e seu desejo de andar em novidade de vida. (Romanos 6).

O batismo de pessoas não convertidas, sejam jovens ou velhos, não tem significado ou valor bíblico e só pode servir ao propósito de dar uma base falsa de confiança, como é o caso dos católicos romanos, episcopais e outros.

Os Exclusivistas que batizam pessoas sem a confissão de salvação e a prova de nova vida, se consideram 'batizados' ou cristianizados, e ficam ofendidos se foram tratados como pecadores perdidos e necessitados de conversão.

O fato é que um não salvo batizado, ainda é um incrédulo perdido no caminho do inferno, e nada mudou diante de Deus até que o arrependimento e a fé em Cristo sejam produzidos pela pregação do evangelho e pela obra do Espírito Santo.

Os Exclusivistas, entretanto, como em algumas outras denominações, os filhos batizados destes crentes dificilmente são vistos como necessitados de conversão ou regeneração, e certamente não são levados a sentir sua condição de perdidos. O resultado é que muitos deles simplesmente se tornam adeptos das “reuniões”, sem ter tido nenhum contato vital com Cristo para a salvação.

Eles simplesmente (para usar a linguagem deles) “assumem seus privilégios”; o que significa que eles começam a partir o pão e a agir como na comunhão estando na comunhão da igreja local.

As consequências disso, como se pode facilmente imaginar, são as mais desastrosas.

Por pior que seja a situação, ela foi muito agravada nos últimos tempos pelos decretos do atual líder deste partido, de John Taylor, Jr.

Estes incluem a exigência de que membros do partido não comam com não-partidários, nem mesmo com membros de suas próprias famílias. Os resultados dolorosos deste procedimento anticristão e desumano foram divulgados ao mundo e produziram indignação em todas as pessoas de pensamento correto.

Mas qual é o resultado no que diz respeito às crianças?

O desejo dos pais é naturalmente que estes sejam trazidos para a comunhão o mais rápido possível, e isso é feito sem nenhuma consideração pelas consequências eternas que podem advir para seus filhos. Pois estes são imediatamente colocados em uma posição falsa e, com o passar do tempo, podem ser imbuídos de todos os falsos conceitos do partido, para a ruína total de suas almas.

O pensamento defeituoso dos irmãos exclusivos com relação à questão vital da salvação de seus filhos resulta do ensino de uma teoria no sentido de que os filhos dos crentes, quando batizados, são levados a uma esfera de bênção ou privilégio. Eles não pertencem mais ao mundo, ou ao lugar externo; a fé dos pais sendo suficiente para garantir a salvação deles.

Tal teoria é destrutiva da doutrina da graça, pois Deus olha favoravelmente para todos os homens e quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Ele não poderia olhar mais favoravelmente para as crianças cujos pais as submeteram a um rito como o batismo para o qual a Escritura não oferece precedente nem instrução.

Relacionada a esse modo de pensar está a atitude geral do partido em relação a toda a questão do evangelismo. É bem sabido que eles não são um corpo evangelístico, nem se caracterizam pelo esforço missionário em terras estrangeiras. Isso também é resultado de uma teoria peculiar deles, segundo a qual a Grande Comissão do Senhor Jesus em Mateus 28.19, 20, não deveria ser realizada na presente dispensação.

As palavras de Cristo a Seus discípulos foram: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”

Mas esses irmãos, estranhamente, entendem essas palavras como significando: Espere até que a presente dispensação termine e então deixe o remanescente judeu sair para evangelizar depois que a Igreja se for arrebatada!

Nenhuma teoria mais absurda jamais foi impingida ao povo de Deus, e o propósito do diabo tem sido bem servido por ela.

O princípio do exclusivismo, ou seja, o exclusivismo que leva essas pessoas a manterem-se separadas dos seus irmãos que não concordam com eles (e crentes mais piedosos do que eles) é defendido por uma série de teorias e interpretações especiais das Escrituras, tais como, 2 Coríntios 6.17, que diz, “Retirai-vos do meio deles e separai-vos”, e tem sido frequentemente aplicado a esse tipo de separação, embora seja claro para o leitor honesto das Escrituras que o antecedente do pronome “eles” neste versículo, se refere a palavra e aos “incrédulos” do versículo 14.

Usam também 1 Coríntios 5, que também é bastante claro em seu ensino. Pessoas imorais, como as descritas no versículo 11, devem ser afastadas da assembleia local e não devemos ter comunhão com elas; mas aplicar as instruções deste capítulo a pessoas salvas piedosas seria desonesto e injusto.

2 Timóteo 2 é outra passagem que é interpretada erroneamente por eles com o propósito de apoiar práticas exclusivistas.

O apóstolo está exortando a “evitar tagarelices profanas e vãs”, como as de Himeneu e Fileto (versículos 16-18).

Se um homem se purifica de tais coisas (o significado da palavra é expurgar de dentro), ele será um vaso para honra, santificado e adequado para uso do Mestre (versículo 21).

Mas o versículo foi feito para significar que um crente, ao separar-se de outros crentes que ele considera indignos, se tornará um vaso para honra, independentemente de sua condição pessoal.

Um dos maiores males do sistema exclusivista é que ele produz em seus adeptos um complexo de superioridade farisaica, levando-os a desprezar e até mesmo a abominar todos os que não estão dispostos a aceitar seus dogmas e práticas. Essa atitude de “santos exclusivistas” é ainda mais ridícula hoje em dia, quando é evidente para o mundo que muitos dos membros deste partido, incluindo alguns de seus líderes, por sua conduta trouxeram descrédito ao evangelho e ao nome do Senhor. Convém a todos os cristãos de mente sóbria hoje se afastarem da iniquidade que está sendo praticada sob o pretexto de se afastarem da iniquidade.

Por ANDREW STENHOUSE, Chile

 

Desenvolvido por Palavras do Evangelho.com