A FALSA TEORIA DE QUE A IGREJA PASSARÁ PELA GRANDE TRIBULAÇÃO

A teoria de que a Igreja passará pela Tribulação, elimina a distinção vital entre a vinda do Filho do Homem à terra para julgamento e reinar, e a vinda do Senhor Jesus nos ares para chamar aos céus a Sua Igreja. Evento conhecido como, o arrebatamento

O primeiro destes estágios do retorno do Senhor como Filho do Homem, (que realmente é, subsequente ao outro na ordem dos eventos), foi predito no Antigo Testamento, por exemplo, em Daniel 7 verso 13, “Eu vi nas visões noturnas alguém como o Filho do Homem”, e mencionado em passagens como Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21.

Já este último, a vinda do Senhor nos ares, o arrebatamento, era “um mistério”, (isto é, mantido em segredo até ser divulgado no Novo Testamento), e revelado especialmente a Paulo, e por ele para a Igreja em suas epístolas, em especial, a “Palavra do Senhor” para os Tessalonicenses, e como um “mistério” para os Coríntios, pois é o que lemos, (“Eis que vos digo um mistério” 1ª Coríntios 15 verso 51).

O apóstolo Paulo, depois de falar sobre o arrebatamento em 1ª Tessalonicenses 4, algo que eles não poderiam saber lendo somente o Antigo Testamento, o apóstolo continua falando, no capítulo 5, daquilo que está relacionado com “tempos e épocas”, ou seja, o “dia do Senhor”, do qual ele diz: “Não tendes necessidade de que eu vos escreva, porque vós mesmos sabeis perfeitamente”.

Como eles poderiam saber disso? Porque o “dia do Senhor”, é a vinda em julgamento, é o “dia grande e notável”, que foram mencionados nos profetas do Antigo Testamento, de Isaías a Malaquias.

Mas se os Tessalonicenses e os Coríntios necessitavam de revelações especiais para os informar sobre a “vinda do Senhor” para a Sua Igreja, como se poderia supor que os apóstolos, no Evangelho de Mateus 24 tivessem em mente, esta vinda, que naquela época era um mistério não revelado?

É realmente muito anticientífico, para usar uma expressão moderna, reler nas mentes dos apóstolos aquilo que, se estivesse lá, teria sido nada menos que uma vaga ideia surpreendente. Não, o Senhor não foi enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Ele se dirigia a quatro dessas ovelhas perdidas, que haviam ouvido a voz do pastor, e elas estavam com Ele na relação de um remanescente judaico fiel ao seu Messias, e representavam esse remanescente fiel nos últimos dias.

Todos os temas e circunstâncias de Mateus 24 são judeus, e dependem da destruição de Jerusalém, – a tribulação “deste povo” (leia Lucas 21, que diz: “grande ira sobre este povo”), e Mateus 24 continua falando da vinda do Filho do Homem para a sua libertação, como predito em Zacarias 14. É claro que aqueles que enfatizam o título aqui usado, de “Filho do Homem”, não querem dizer que este nunca seja usado quando estão em questão de verdades diretamente aplicáveis ​​à Igreja. Tudo o que se quer dizer é que onde você tem “a vinda do Filho do Homem”, a referência é à vinda do Filho do Homem conforme revelado a Daniel.

Um escritor, sem o menor senso de interpretação bíblica, referiu-se à “notável semelhança” entre as “vindas” descritas em Mateus 24 e 1ª Tessalonicenses 4. Infelizmente, ele se absteve de indicar os pontos de semelhança. Mas ele não apresentou, porque não existe. Qualquer um que acredite que as Escrituras são inspiradas por Deus ficaria, penso eu, mais impressionado com os pontos de contraste do que com os pontos de semelhança. As palavras das Escrituras não são usadas ao acaso. Diferenças que podem não significar nada num mero livro humano têm muitas vezes um significado profundo no Livro de Deus. É verdade que existem certas semelhanças superficiais. Em ambas as passagens é descrita “uma vinda”, e a da mesma Pessoa. Mas os dois eventos diferem quanto a circunstâncias, maneira e objetos.

Quanto às circunstâncias, ambas as passagens de fato se referem à mesma Pessoa, Jesus Cristo, mas por que essa Pessoa é descrita como “Filho do Homem” em Mateus, e como “o próprio Senhor” em 1ª Tessalonicenses 4?

Perguntamos se não há significado no fato de que “a vinda” em Mateus 24 é precedido pelo “sinal do Filho do Homem”, pelas maravilhas celestiais e pela Grande Tribulação, e é comparado ao “dilúvio” e tem, portanto, caráter de julgamento divino, enquanto que, em 1ª Tessalonicenses 4 não há uma palavra de sinais premonitórios ou Tribulação, nem indício de julgamento acompanhante?

Quanto à maneira, em Mateus 24, a vinda é assim descrita: “Então as tribos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo nas nuvens do Céu com poder e grande glória; e Ele enviará os Seus anjos, e eles reunirão os Seus eleitos”. Em 1ª Tessalonicenses 4, as tribos da terra não aparecem em cena, nem os anjos são mencionados sequer uma vez. Os santos são reunidos pela voz pessoal do Senhor e pela trombeta de Deus. A ação aqui em 1ª Tessalonicenses 4, é instantânea, num abrir e pescar de olhos; mas o evento de enviar anjos e reunir o povo por meio da sua atuação, como em Mateus 24, apresenta a ideia de tempo.

A vinda de Jesus como “Filho do Homem” em Mateus 24 é pública. “Todas as tribos da terra se lamentarão.” Não há menção disso em conexão com a vinda do Senhor Jesus em 1ª Tessalonicenses 4. Tudo termina “num momento, num abrir e fechar de olhos”, (confira 1ª Coríntios 15, onde a mesma vinda é descrita), e o efeito no mundo em geral não é mencionado.

É absurdo afirmar que porque “o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus”, (1 Tessalonicenses 4 verso 16), o mundo ouvirá. Em João 12 temos um relato autêntico de Deus falando do céu em palavras definidas. Para alguns que estavam ali, foi apenas um trovão. Deus pode fazer ouvir Sua voz a quem Ele quiser, e vela-la a quem Ele quiser.

Quanto aos objetos em vista, em Mateus 24, os objetos são duplos: 1º. os eleitos; 2º. o mundo. Em 1ª Tessalonicenses 4 os objetos também são duplos, mas diferentes daqueles que acabamos de mencionar: 1º. os santos adormecidos que serão ressuscitados, (não há menção de ressurreição em Mateus 24); e 2º. os santos vivos, que serão transformados e ambos arrebatados nas nuvens, para estarem para sempre com o Senhor.

Mas alguém dirá: Não encontramos o arrebatamento mencionado em Mateus 24 versos 40 e 41? Sim, mas é precisamente de caráter inverso ao de 1ª Tessalonicenses 4.

Os levados em 1ª Tessalonicenses 4, são os santos da Igreja removidos de um mundo condenado ao julgamento. Em Mateus 24, se compararmos os versículos 40 e 41 com o versículo 39, notamos que os “levados” correspondem aos ímpios cortados pelo dilúvio, enquanto os deixados correspondem a Noé e sua família, e serão abençoados como eles. Quando o Senhor vier como em 1ª Tessalonicenses 4, será uma bênção ser levado embora. Quando Ele vem em Seu Mateus 24 versos 39 a 41, será uma bênção ser deixado para trás. Os levados, são os ímpios levados a julgamento, que não foram salvos pelo evangelho do reino pregado naqueles dias, e os deixados, ficam para entrar com Cristo no reino milenar.

Antes de concluir este assunto, temos que dizer que, a ordem dos eventos no Apocalipse e o caráter judaico do Livro são fortes argumentos, contra a falsa teoria de que a Igreja passará pela Tribulação e Grande Tribulação.

Em Apocalipse 1 verso 19, é dada a divisão tripla do Livro, onde diz que o capítulo 1 representa a primeira divisão; os capítulos 2 e 3 a segunda, a saber, “as coisas que são”, (não apenas mensagens para as sete igrejas literais, mas, como é geralmente admitido, uma visão profética e panorâmica da Igreja desde o período apostólico até os últimos dias); e temos no capítulos 4 até o fim, a terceira divisão, ou seja, “as coisas que hão de acontecer depois destas”. Neste ponto, João é arrebatado ao céu aberto, de onde ele olha para a terra, e daí em diante começa o tratamento de Deus com Israel, Babilônia e as nações.

Por que Ele não trata mais com “as igrejas”?

Porque, como creio, o arrebatamento de João em Apocalipse 4, é apenas representativo do arrebatamento de toda a Igreja, que pode ser representada no capítulo 4 sob a figura de vinte e quatro anciãos vestidos de branco. Estes estão sentados ao redor do trono, em contraste com a grande multidão no capítulo 7, que é vista em pé diante do trono. No capítulo 5, o Senhor Jesus é mencionado como “o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi”, evidentemente em contraste com Israel, (pois não é nesses termos que Ele nos é apresentado em relação à Igreja).

Mais tarde, o Leão é visto como “o Cordeiro”, uma palavra usada para Ele apenas no Apocalipse, e bastante distinta daquela empregada no Evangelho de João 1 verso 29 e 36; Atos 8 verso 32; e 1ª Pedro 1 verso 19. Foi como “o Cordeiro” que Ele comprou o mundo, e pode reivindicar romper os selos do livro, os títulos de propriedade da compra da terra. É dEle como “o Cordeiro” que os seres viventes e os vinte e quatro anciãos dão testemunho, como também do sangue, o preço de compra (leia Jeremias 32 versos 8 a 12). À medida que cada um dos primeiros quatro selos é quebrado, uma criatura vivente clama: “Venha!” E imediatamente há uma manifestação correspondente de energia na terra, que mostra que embora o homem proponha e Satanás se oponha, ainda é Deus quem dispõe.

Muitos acreditam que o conquistador do capítulo 6 é apenas a imitação de Satanás daquele outro Conquistador em um cavalo branco de Apocalipse 19, e não é outro senão “o homem do pecado” de 2 Tessalonicenses 2, que está destinado a fazer uma aliança de sete anos, não com a Igreja, mas com o povo de Daniel, “Israel”. O quinto selo pode muito bem corresponder em medida à Grande Tribulação, consequente à quebra dessa aliança no meio do período de sete anos. Esta Tribulação, idêntica, creio eu, ao tempo da “angústia de Jacó” (Jeremias 30 verso 7), continua até o fim, até aquele, “um dia” de Zacarias 14 verso 7.

É notável que no versículo 1 deste capítulo a Versão Revisada diz, não: “O dia do Senhor vem”, mas “Um dia do Senhor vem”, ou seja, um dia especial, descrito abaixo como um dia “quando a luz se acenderá”, “não será claro nem escuro”, “nem dia nem noite”, devido, talvez, ao escurecimento dos corpos celestes? Estes sinais, sabemos por Mateus 24, precedem imediatamente a vinda do “Filho do Homem com poder e grande glória”. Acredito que este, “um dia”, é o dia mencionado nas Escrituras, “o dia do Senhor, o grande e notável”.

É geralmente reconhecido que o Apocalipse não pode ser lido consecutivamente, exceto dentro de certos limites. O Espírito de Deus continuamente nos leva até o fim, embora “o fim ainda não tenha chegado”. Assim, o capítulo 5 nos leva às cenas milenares, capítulos 6, 14 e 19, ao que parece ser em cada caso (pelo menos nos dois últimos) o clímax do julgamento final. Mas onde quer que estejamos, o registo está tingido com uma coloração judaica. A própria oração das almas sob o altar (no capítulo 6), que clama por vingança contra seus inimigos, certamente é suficiente para mostrar que estes não são mártires cristãos, mas judeus salvos depois do arrebatamento. Embora a resposta mostre que o dia da tribulação ainda estava em andamento.

Os 144.000 israelitas do capítulo 7, o Templo reconstruído do capítulo 11, o caráter do testemunho das duas testemunhas do capítulo 11 e o do “Evangelho Eterno” do capítulo 14, (que, embora, é claro, baseado no mesmo fundamento que o “Evangelho da graça de Deus” desta dispensação, é certamente distinto desta última, como mostram seus termos), e muitos pontos semelhantes, todos provam que a Igreja não está à vista no Apocalipse do capítulo 6 em diante, até que ela venha com seu Senhor no capítulo 19.

A esperança do cristão não é uma vida longa nem uma morte sem dor. Não é nem a conversão do mundo nem o julgamento do mundo. Não é “o dia do Senhor” nem “a Grande Tribulação”, mas a vinda do Senhor nos ares para o arrebatamento. A teoria de que a Igreja passará pela Tribulação, tira esta esperança de todo o salvo desta dispensação.

Mas, não precisamos temos esta falsa teoria, pois uma das últimas promessas de Cristo foi: “Virei outra vez”, e Sua última garantia antes do fechamento do Livro de Apocalipse foi: “Eis que venho sem demora”. Era por Ele mesmo, não os acontecimentos na terra, muito menos “a Grande Tribulação”, pela qual Ele nos faria esperar.

Temos a certeza de que a Grande Tribulação é apenas como um semáforo que mergulha para mostrar que o trem está na hora certa; mas a ilustração não é muito feliz, pois se um semáforo afundasse e o trem demorasse três anos e meio para chegar, deveríamos supor que houve um acidente.

De alguma forma, não posso deixar de suspeitar que por trás desta falsa teoria se esconde, insuspeitada pelos seus adeptos, a legalidade. Ou seja, no conceito errôneo deles, como a Igreja não tem sido o que deveria ter sido, nem coletivamente nem individualmente, portanto ela deve passar pela Grande Tribulação, uma espécie de “Purgatório Protestante”, para expiar os seus múltiplos fracassos. Na verdade, se fosse uma questão padecer pelos desvios, ela merecia sofrimentos piores do que uma Grande Tribulação pode ameaçar. Mas a mesma graça que nos salva nos dá um objeto para procurar e nos ocupar, aquela bendita esperança, (Tito 2 verso 13).

O que só posso descrever como uma tentativa muito inadequada foi feita para superar a dificuldade. Foi feito um esforço para sugerir um paralelo entre a Igreja que espera pelo seu Senhor e um grupo de cidadãos que espera pela chegada do seu Rei. É verdade que estes últimos sabem que o seu Rei deve ser precedido por um esquadrão de cavalaria e uma banda militar, mas será que isso estragaria a sua esperança de vê-lo?

Eles não prefeririam forçar os olhos e os ouvidos para captar a primeira visão e o esforço do líder da procissão?

Assim argumenta o apologista da Tribulação.

Muito bem, mas o que corresponderia no caso da Igreja a estes alegres acordes musicais?

A perseguição mais terrível que o mundo já conheceu, pior que os massacres mundiais, uma “Grande Tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá” (Mateus 24 verso 21).

Se, voltando ao suposto paralelo, os cidadãos soubessem que antes que o seu Rei pudesse aparecer, teriam de suportar três anos e meio de tortura e massacre na prisão, afirmo que seria inútil falar-lhes da vinda do seu Rei com esta sombra terrível em seu caminho. Os Tessalonicenses foram ensinados por Deus a “esperar pelo Seu Filho do Céu”, a esperar o próprio Senhor, porque era, por assim dizer, a próxima coisa a acontecer no programa celestial, o arrebatamento da Igreja.

Por W. Hoste, BA

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